Prosa da Rosa com José Maurício Domingues
José Maurício Domingues possui graduação em Historia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1985), mestrado em Sociologia pelo IUPERJ-UCAM (1989) e doutorado em Sociologia pela London School of Economics and Political Science, Universidade de Londres (1993), na Grã-Bretanha. Foi visiting scholar na Universidad Livre de Berlin (1998) e na Universidade Humbolt, Berlim (2000), ambas na Alemanha, bem como pesquisador visitante em El Colegio de México (2006) e fellow do Instituto de Estudos avançados da Universidade Hebraica de Jerusalem, Israel (2009). Realizou Estágio-Senior, como Visiting Sholar, na Universidade de Cambridge, de fevereiro a julho de 2010, com bolsa da Capes. Foi professor-pesquisador do IUPERJ de 2000 a 2010, do qual foi Diretor Executivo entre 2005 e 2009, do IFCS-UFRJ, e visitante na UFPE, na UNSAM e na UBA (ambas na Argentina), bem como na Universidad Alberto Hurtado (Chile) e na Pontificia Universidad Católica de Medillín (Colombia). Atualmente é professor do IESP-UERJ, para onde migrou o conjunto de professores do antigo IUPERJ.
Entrevista realiza em 01/04/2022
https://revistarosa.com/5/prosa-com-jose-mauricio-domingues
Perguntas:
0:1:24 Na abertura do seu livro, talvez com um tom pessimista ao prever o futuro, você localiza a urgência em se abrir uma via de democratização mais ampla. Quais seriam os maiores desafios, hoje, para a criação de uma uma voz mais uníssona e, portanto, ampla, por parte da esquerda? Essas dificuldades estão se revelando mais fragmentadas e pontuais do que outrora? E, por fim, que atitudes a esquerda precisaria tomar para assegurar sua própria sobrevivência nesse cenário?
0:6:11 Numa passagem de O futuro da democracia, fazendo uma síntese da experiência histórica até ali, Norberto Bobbio diz o seguinte: “Onde quer que tenha havido democracia, o socialismo não vingou; e onde quer que tenha havido socialismo, a democracia não vingou”. Essa síntese faz sentido para você? Se sim, como explicá-la e o que ela pode nos dizer sobre o futuro do socialismo?
0:19:02 Colocada na escala do mundo a esquerda parece desesperadamente desprovida dos meios e instrumentos de execução de um poder ou uma agenda transformadora, e o que lhe resta não é nada senão um realismo do poder que você descreveu. Você concorda com essa leitura?
0:37:20 Como fazer uma reflexão teórico e intelectual para fora desses mesmos campos? Que isso tenha eco na prática política dos partidos? Porque os partidos, como você mencionou, eles estão apenas interessados em uma disputa de poder, em quem fica no poder e por quanto tempo. Esse elo entre a reflexão teórica e intelectual parece ter se rompido de tal modo que seria uma conversa de surdos.
0:48:50 No seu livro, você diz que "As lutas decisivas, hoje, continuam a ser por direitos fundamentais, civis, políticos, sociais e também ditos 'difusos', em particular no que se refere à 'natureza' e ao meio ambiente, e democracia, se bem que seja duvidoso se o momento expansivo do liberalismo pode ser recuperado". Você acha que Lula, e o PT, estariam hoje à altura de representar e cumprir essa agenda contemporânea? Existe real engajamento para que ela seja cumprida?
0:58:53 Mesmo agora, nos últimos tempos, que a palavra "socialismo" voltou à tona, e que a esquerda socialista começou a perder um pouco aquela situação intimidatória da queda do muro de Berlim é interessante que ela volta, mas a palavra "revolução", que uma palavra-chave do século XX, sendo uma palavra do vocabulário político usada por todo mundo, com uma conotação positiva, não. Em 1964 os militares fizeram questão de chamar 64 de Revolução de 64, até a direita usava esse termo, mas era um termo da esquerda. O nome "socialismo" continua sendo um nome adequado para a esquerda do século XXI?
1:16:54 De que maneira poderíamos olhar para os conceitos usados pela esquerda no passado? Em que medida os eventos ou movimentos guardam conceitos que deixaram de ser operacionalizados porque a lógica social que se impôs sincronizou o tempo da vida e a história de acordo consigo mesmo e os relegou, mas que num momento de crise como o nosso, como numa garrafa de vidro que você abre depois de muito tempo fechada pode desestabilizar nossas verdades e voltarmos a oferecer conceitos operacionais. Olhando para trás, por favor faça uma genologia otimista da esquerda que fale que ideias, que conceitos importantes já foram esboçados e dos quais não deveríamos prescindir.